Ao me deparar com o livro, Criança Adotiva de Nazir Hamad, senti grande identificação e necessidade de absorver seus esclarecimentos sobre pontos obscuros que por mim rodeavam naquele momento. Eram meados de 2010.
Atendia uma família com um discurso de busca pela felicidade, num caminho cheio de atalhos e bifurcações, com remendos e arremedos e ainda uma crítica social do desconhecido. E então me pus a pensar:
“Somente as boas intenções podem de fato gerenciar esta situação de relacionamento entre pais e filhos? Adotivos ou não? Será que a objetividade e até mesmo uma certa frieza dos processos judiciários se justificam? Como contornar as situações de conflito instalada por excesso ou escassez entre pais e filhos?”
Decidi escrever sobre isso observando os esclarecimentos que o livro me trouxe, e também refletindo sobre nosso papel psicoterapêutico dentro e fora das famílias na busca de compreender os sentimentos humanos. Nada se pode fazer a outro ser humano sem o sentido de amor e intenção declarada, nisso me apoio. Portanto minhas intenções são de compartilhamento e busca incessante de oferecer o melhor para uma relação justa de amor entre pais e filhos, adotivos ou não.
Observando o ponto de apoio que a autora Nazir Hamad foca em seu livro posso dizer que minhas dúvidas foram aclaradas de forma ampla... Porquê?
Nazir Hamad pontua que um profissional da área da psicologia e educação deve junto com os pais, observar o fato deles quererem muito um filho e a possibilidade desse filho querer muito estes pais. Dentro disso, os argumentos precisam ser claros, práticos e possíveis diante dos olhos de todos os envolvidos.
O fator sócio econômico é importante, mas nada que de fato defina a aceitação ou não da adoção. Mas, certamente é necessária a compreensão do significado de um investimento financeiro de longo prazo que uma adoção representa nesta nova família. Isto é analisado com sinceridade e sensibilidade para uma tomada de decisão sem cobranças ou faltas futuras.
Cuidar para os pais terem clareza que a criança chega em sua casa para ocupar um lugar ali instalado e preparado para ambos. Lembrando que aquele espaço antes apenas dos pais, também será ocupado por mais uma pessoa. E que essa criança vai crescer e ocupar cada vez mais espaço, na casa e na vida. Ambos precisam olhar para aquele lugar e se apropriar das novas condições. A autora defende a ideia dos preparativos para a chegada de uma criança adotiva da mesma forma que se aguarda o processo de uma gravidez. Ela também salienta que na prática, isso muitas vezes não acontece, e não se define a verdadeira compatibilidade entre os preteridos. Futuramente os problemas que surgirem esbarrarão nas escolhas não bem esclarecidas por motivo de ansiedade.
No entanto, se torna muito importante uma participação profissional diante da necessidade de estabelecer um bom senso ético, quanto ao envolvimento emocional nesta situação. E tal qual um namoro, deve-se aguardar o melhor momento para dar um passo definitivo.
O livro é extremamente didático o que faz qualquer pessoa desenvolver uma compreensão farta. E acolhedor para os leigos e simpatizantes da causa; demonstra sua prática em trabalhos forense de adoção e esclarece a conduta psicoemocional dos seus vários casos de exemplos.
Quanto às questões citadas acima, fico com as seguintes conclusões:
Somente boas intenções não devem nortear uma adoção, porque as vidas das pessoas envolvidas não são feitas de momentos, sejam eles de dor ou de alegria. E imprescindível que compreendamos a real necessidade de tal atitude e nos responsabilizemos por ela a vida toda, deixando um espaço aberto na consciência para abrigar os erros e acertos dessa atitude, as pontes que nos ligam aos nossos desejos e aqueles que se ligam a nós.
Os processos judiciais precisam sim ser frios e rígidos. Só assim cumprem um papel que ninguém gosta. O papel de pôr o dedo na ferida da hipocrisia e ignorância dos fatos escondidos por trás das boas intenções.
E finalmente, como contornar os conflitos entre pais e filhos provocados pelo excesso ou mesmo pela falta?
Sigo segura acreditando que nada está perdido, e que a humanidade segue um caminho com seus erros e acertos até o momento em que decide que tudo pode melhorar, cada caso é um caso, e merece ser apreciado dentro das suas especificações com um olhar interessado, compreensivo e disposto. Partindo do princípio de que o autoconhecimento é a luz da verdade, o amor é a temperatura do confortável e a fé humana justifica todo esse processo, pelo menos naquele momento.
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