Criativamente útil
- Marcela Torres
- 15 de set. de 2021
- 2 min de leitura

Registro de videoarte: sem título, 2021. Arquivo pessoal.
Algum dia você parou pra observar como se move? Digo, enquanto vocês escovava os dentes ou amarrava os tênis, pensou que poderia refazer os movimentos? ser mais inventiva(o)?
Estudo expressão corporal há muitos anos e, apesar de participar de oficinas criativas, provocar e desafiar o corpo com diferentes técnicas de dança e educação somática, foi através dos escritos da Paulina Ossona [precursora da dança moderna na Argentina] que fui impactada pelo poder do utilitarismo no nosso dia a dia.
Paulina, no livro Educação pela Dança, categoriza nossa maneira de mover. Segundo a autora, há uma maneira de mover que se enquadra no que ela chamou de movimento utilitário. O movimento utilitário é aquele movimento "útil". O que tem um começo, meio e fim. Exemplo: tenho sede, me movo até um copo/garrafa de água/bebedouro. Me sirvo, bebo. Sacio a sede. Começo, meio e fim. E o que tem demais nisso? Bem. Movimentos utilitários dão sentido à nossa comunicação, existência e autonomia. Eles foram uma conquista na primeira infância. Usamos muita energia pra conseguir realizar essas atividades corriqueiras que hoje parecem simples, quase sem importância.
O que merece atenção aqui é: o movimento utilitário é repetitivo. É quase sempre igual. E se pararmos pra observar, ao longo do dia, quantas vezes fazemos exatamente as mesmas coisas? Mexer no celular, morder os lábios, arrumar os óculos, fumar. E a maneira de executar tarefas? Lavar a louça, os apoios dos pés, a maneira de caminhar, como carregamos bolsas/sacolas. Nosso corpo há muito tempo vem repetindo a mesma "sequência coreográfica".
O oposto do utilitário é o movimento criativo. Aquele que foge do padrão. E pode ser algo simples como tentar usar outra mão para segurar a escova de dentes. Ou praticar um exercício que você não costuma fazer, como subir as escadas do prédio, caminhar pra ir a padaria ao invés de usar carro.
Se a primeira infância é lugar que conquistamos grande habilidades corporais, é lá também que costumamos deixar parte de nossa criatividade. Quando saio com meu filho preciso considerar o tempo de exploração do espaço. Ele anda em zig-zag, sobre nas muretas, roda nos postes da rua. Se o chão tem quadrados ele improvisa amarelinha ou qualquer outra brincadeira recém-criada. É um exercício não podar essa imaginação. Sei o quanto isso é importante a longo prazo pra que ele siga sendo criativo e menos utilitário no dia a dia.
E você? Pode explorar novas formas para se mover no seu cotidiano? Tudo o que precisamos é criar. E criar é tão natural para nós quanto respirar!

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