Ilustração: Samba do Desencontro V, Marina Stutz - Carvão sobre papel [21x15 cm]
Para o filósofo Spinoza, viver passivamente é viver tristemente. Uma vida livre de questionamentos seria o mesmo que viver desfrutando apenas do nível mais baixo de consciência. Nesse contexto, um nível baixo de consciência, pode ser entendido como pouca ou quase nenhuma reflexão sobre a vida. Indiferença sobre o que foi e o que virá. Desinteresse sobre si e sobre o outro. O famoso “deixa a vida me levar”...
A mesma palavra foi escolhida pelo teórico do movimento Moshé Feldenkrais. Para ele, é a consciência que nos liberta e nos faz mover. Seres conscientes são ativos. E isso pode ser compreendido nas esferas privada e pública. Ser ativo no cuidado de si, de seu corpo, seus desejos e necessidades. Ser ativo e comprometido com a comunidade, com pessoas vulneráveis.
Há, no entanto, algo de profundo e individual na consciência descrita por Feldenkrais. Ser consciente é um caminho de investigação do eu. No livro “Consciência pelo Movimento”, ele explica que a educação dada pela sociedade uniformiza a todos e repudia, negando apoio e punindo quem pensa diferente. Essa uniformização pode aparecer tanto em tendências da moda, quanto em valorizar certas profissões em detrimento de outras (além de MUITAS outras situações). O resultado de tanta formatação é esse:
“A maior parte dos adultos de hoje em dia vive atrás de máscaras [...] Cada aspiração e desejo espontâneo são sujeitos a rígida crítica interna, por medo que revelem a natureza fundamental do indivíduo. Tais aspirações trazem ansiedade e remorso, e o individuo procura suprimir o impulso de realizá-los. A única compensação que faz a vida consistente é a satisfação derivada do reconhecimento do indivíduo pela sociedade [...] A necessidade de apoio é tão grande, que a maior parte das pessoas passa a maior parte de suas vidas reforçando as máscaras.” (Trecho do livro "Consciência pelo Movimento")
Feldenkrais de maneira sucinta provoca uma reflexão que deve partir para a observação do corpo. Como é o seu corpo? Você se sente livre? Você usa as roupas que sente vontade? Você se permite errar? Cair no chão? Praticar um esporte novo que precise aprender na frente de outras pessoas? Você dança? Quando era criança, você corria mais? Você chora? Consegue falar sobre seus medos com alguém? Sente falta de abraço? Você gostaria de abraçar mais? Você sente seus dedos dos pés? Você toca seus joelhos? Se faz carinho? Cuida de sua pele, cabelos, dentes? Você sabe que seu corpo é quem você é?
Como professora de dança e expressão corporal me sinto na obrigação de questionar.
Seus movimentos (suas ações) definem sua identidade. É o movimento a base da consciência. O que sentimos, pensamos, sofremos ou desfrutamos com prazer é externado ainda que involuntariamente através de movimentos, pequenos ou grandes. A dança, arte livre de aparatos externos, depende APENAS do corpo. De uma livre expressão. Mas só é possível expressar livremente quando nos tornamos conscientes de quem somos.
Embora possa parecer confuso, confie nos sinais do seu corpo. Valorize seus calafrios, seu suor e seu sexto sentido. E quando não entender a resposta corporal, lembre dessa frase, dita pelo professor e pesquisador do teatro, Renato Ferracini: “O objetivo não é entender. É fazer mover.”
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