É... Inverti essa frase propositalmente, observei que agora as crianças já têm a capacidade de conversar com seus pais para dizerem o que sabem e o que não sabem, o que gostam e o que não gostam, o que priorizam e o que não priorizam. Os pais precisam escutar isso, com ouvidos abertos a novos saberes. Crianças aprendem coisas todos os dias e sabem de coisas novas sempre, entre tudo que aprendem escolhem o que gostam e o que não gostam e ao evoluírem em seus gostos de acordo com sua idade precisam esclarecem o que é e não é prioridade para elas. E nessa hora, antes que uma briga aconteça ou mesmo que nada se fale e simplesmente se aceite o fato, é necessário ponderar:
A partir de qual idade as crianças ganham essa autonomia?
Acredito que a melhor resposta para essa questão está na base familiar de cada criança. Se vamos ponderar, é necessário que um adulto ou de preferência um casal de adultos tenha esse olhar antes mesmo do nascimento de uma criança em seu lar. Vamos dar um prazo razoável para uma criança fazer suas descobertas, dois, três anos... pra que se perceba o que ela conhece de seu mundo, o que sabe, o que gosta, e finalmente suas prioridades.
Daí então, o que se entende como sendo um diálogo entre filhos e pais ou entre pais e filhos naturalmente se inicia.
Têm algumas diferenças:
1) Os pais no modo tradicional raramente dialogam com seus filhos, eles brincam, fingem que ouvem, respondem perguntas com outras perguntas, e finalmente dão uma ordem e pedem para que as crianças se retirem. Isso não é diálogo, não é mesmo?
2) Os filhos não dialogam porque ainda não aprenderam a argumentar e relacionar possibilidades, e o que fazem se resume a pedidos chorosos e chantageadores, o que não ajuda no diálogo e compreensão.
Diante disso, como produzir um diálogo produtivo entre dois ou mais indivíduos, que passe necessariamente pela troca de informação clara mediante compreensão? Difícil né? O que fazer?
Ok...Pense no diálogo como uma troca de ideias em que ambos se divertem, se compreendem e ajudam a aumentar a compreensão, a fim de atingir seus objetivos. Vamos por partes. Nas brincadeiras, podemos definir que se ambos querem jogar, é necessário que se respeitem as regras do jogo. Essa é uma primeira forma de diálogo. Diante de alguma dificuldade, mostrar que podemos ajudar e também pedir ajuda, e para isso precisamos compreender nossos limites, possibilidades, condições. Isso tudo é possível no momento em que a criança já pode definir seus gostos, e dentro dos gostos escolher suas prioridades.
E assim, percebe-se quando uma criança pode estar apelando, e convencê-la a adotar um comportamento mais adequado e compreensivo, é muito mais legal e não faz mal. Quando uma criança percebe uma manobra não muito bem intencionada dos adultos a sua volta, e se tocar antes, não faz mal algum. Neste tipo de relacionamento familiar algo importante se constrói, e se chama confiança.
Sabe... existe um momento em que se nós pararmos e pensarmos juntos, percebemos a necessidade de cessar o diálogo e começamos a transmitir orientações, afinal qualquer criança por mais esperta que seja, precisa de orientação e direcionamento para enfrentar desafios com alguma segurança. E orientação, por ser diferente de diálogo, exige de quem assume essa responsabilidade uma postura respeitosa consigo e para quem se dirige a orientação. Não importa a idade da criança, ela precisa sentir que é respeitada em sua posição, assim ela pode respeitar a posição de quem orienta.
DIÁLOGO - conversa descontraída, divertida, troca de ideias. Importante para se conhecer a maturidade de quem participa. Tanto a criança avalia o adulto, quanto o inverso.
ORIENTAÇÃO - conversa focada em algum objetivo ou algum direcionamento, respeitosa nas possíveis divergências. Se soubermos o grau de maturidade de quem nos ouve podemos dimensionar o quanto de orientação cabe naquele momento. Compreendendo que o grau de maturidade de alguém se define com as possíveis respostas lógicas de quem responde, de acordo com a maturidade de quem pergunta.
E como transmitir limite em forma de diálogo em uma conversa de orientação? É possível?
Sim... o limite acontece quando se determina um número razoável de orientações naquele momento.
Observe os exemplos:
“ - Vou falar apenas mais uma vez! - Assim era no tempo dos meus avós, não se repetia a mesma fala mais de uma vez! – Na casa de meus pais também! “
Os tempos mudam e as orientações também devem mudar para se adequar as novas mentalidades. Hoje recomendo outras falas, mas com o mesmo objetivo:
“- Vou falar apenas mais uma vez!!! Depois disso, caso você não consiga entender terá que me dizer e se explicar para que eu possa de fato te ajudar. E assim firmar um combinado e não repetir mais.”
Essas são falas limitadoras, que organizam um diálogo e esclarecem a importância do que se diz: “ uma vez”, “não repetir”,” três vezes”, quantificando e valorizando o conteúdo.
Limitar não é castigar, não é humilhar ou mesmo desprezar. Limitar é mostrar o espaço adequado! Ajustar tempo e hora!
Com qual idade seus filhos poderão questionar uma orientação sua?
Você, pai ou mãe responsável define, comunica aos filhos tal escolha, os motivos de forma justa e você mesmo respeita essa definição. Assim é, e através desse exemplo seus filhos entenderão como respeitar os limites.
Quantas vezes você quer dar uma orientação? Uma vez. Será que é suficiente? Duas vezes. Três vezes. Será que é demais? Não importa o seu limite, mas... uma vez combinado com a criança, respeite isso.
Dê à criança a oportunidade de estabelecer algum limite também. E se combinado, mostre o que ficou combinado como exemplo. Isso precisa ser justo, ajustado, combinado.
Mas ainda assim, uma intervenção profissional se faz necessária e ela acontece quando uma relação já está contaminada de mandos e desmandos, promessas e falsas promessas, de comprometimentos que vão além da compreensão e do alcance familiar. Isso pode acontecer desde sequências traumáticas até distúrbios escondidos em comportamentos incompreendidos pelos envolvidos ao longo dos anos.
Por isso, o quanto antes se perceber e atuar em busca de ajuda, melhor! Essa intervenção pode contribuir para que as relações se tornem saudáveis, duradouras, construtivas e principalmente mais alegres e divertidas - como devem ser.
Eu sou Evatânia... e posso ajudar você!
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